terça-feira, 21 de setembro de 2010

Avatar e a hipnose do 3D

=( obs: postagem com conteúdo spoiler. Se você não viu o filme e não quer saber o final, assista e depois leia o textinho =)



Esse post está um pouquinho bem atrasado, mas já que o filme Avatar agora terá reexibição nos cinemas (pra poder se autoproclamar o superhipermegapower insuperável mais assistido de todos os tempos), vou aproveitar pra escrever sobre O Fenômeno - que não é nem o Ronaldo, e nem o filme do Travolta, mas sim a incrível tecnologia que até agora só esse filme tem: o 3D de verdade.

Sim, de verdade, porque os outros lançamentos até agora (Alices, Toy Storys, Shreckes, Origens e Dragões da vida) foram gravados em 2D e "convertidos" ao 3D, ou seja se você não viu Avatar e até agora não entende o porquê do fusuê que se fez agora em torno de uma tecnologia que já existia nos tempos de Hitchcock, não se preocupe. Apenas o filme dos bichinhos azuis usou de fato essa tecnologia que imita o olho humano, conseguindo assim a proeza de colocar a platéia em absoluto transe hipnótico por incríveis quase três horas.

Em transe hipnótico? Por quê? Além dos aspectos teológicos que NÃO DISCUTIREI neste post, seria praticamente impossível a um bom cinéfilo aguentar um filme com roteiro, diálogos e triiilha sonora tão insossos e clichês por tanto tempo sem querer sair da sala e pedir o dinheiro de volta, se não fosse pela fenomenal tecnologia empregada nessa obra. Avatar é por excelência um filme de pós-produção. Isso, e as câmeras bi-oculares de James Cameron, responsáveis pelo efeito 3D.

Em termos de roteiro, Avatar é um Dança com Lobos ao estilo Matrix - como diria Pablo Villaça, que infelizmente também foi hipnotizado pelo alucinógeno das flores fosforescentes - contando a história de um veterano de guerra que vai ao planeta Pandora e se infiltra entre os nativos, vestindo uma carcaça transgênica de Na'Vi, na intenção de estudá-los e descobrir seus pontos fracos para facilitar o ataque do general malvadão com a cicatriz à la Scar. Entretanto, como era de se esperar, nosso bondoso herói se apaixona pelo estilo de vida dos Na'Vi - e também pela mocinha azul que de tanto odiá-lo vira professora dele e se apaixona também - e resolve se rebelar contra o general malvadão cicatrizado.

Isso clareou o conceito de clichê pra você? Avatar tem a fórmula completa do clichê que o povo não cansa de assistir: um herói que muda de lado, uma mocinha forte e sensual, uma nação pura correndo o risco de ser extinto, uma lenda de um herói, uma fera feroz (puts redundância) que só é domada pelo mais bravo guerreiro, um bandido com uma marca no rosto, um covarde ganancioso em busca dos tesouros dos nativos (isso não lembrou Pocahontas também?), uma equipe de nerds ambientalistas que são zoados pelos burros militares, mas que ajudam o mocinho provando que inteligência supera força (ai ninguém nunca viu isso, né?), uma guerra épica antecedida pela reunião de povos de todo o planeta Pandora, preparados para ajudar nossos heróis, e uma reviravolta espetacular e sobrenatural no terceiro ato. Isso sem falar do básico momento de desespero, quando a coisa fica preta pros azuisinhos e a culpa vai pro herói: "nós confiamos em você"," você nos traiu", "você é um deles" e poraí vai.

José Wilker acertou na mosca quando disse que Avatar "engana bem", pois é bem isso que o filme traz. E se alguém for falar da questão ecológica desse filme, basta lembrar da animação Wall-E e de outras dezenas de filmes nas últimas décadas que trataram melhor da questão do que esse filme.

Enfim, após ver esse filme ser descascado, moído, triturado e pisoteado apenas nos aspectos cinematográficos, espero que você consiga ter uma visão um pouco mais exigente da próxima vez que for ao cinema para ver um filme rodado em 3D real, porque além da dor de cabeça que causa em alguns, essa tecnologia é um alucinógeno poderoso pra atrair ma$$as e espantar análises críticas.

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