Um filme que nunca existiu. Cheguei a mencionar remotamente
num post anterior sobre a produção deste curta e um erro específico das
centenas que cometi ao longo do processo; além disso, comentei que o filme
ainda não estava pronto e não saíra da ilha de edição desde aquele tempo. Pois
bem, há cerca de algumas semanas fui surpreendida com alguns e-mails de meu
antigo grupo do curso do IFPR cujo assunto “principal” não vem ao caso aqui,
mas o importante é que resumindo respostas e respostas de respostas, fui
notificada de que todo o material bruto do Entre as Folhas – ou seja, tudo o
que foi filmado – se perdeu permanentemente. Não havia mais registro, o
material original das fitas se foi, as cópias em HD foram deletadas, o backup
se perdeu num computador defeituoso.
Então, de que adiantou? De que valeram todos os dias de
reunião e filmagem, todos os custos, as brigas, os estresses, a correria, o
tempo, o dinheiro e a energia que gastamos? Bom, talvez esse filme não tivesse
sido criado pra ser exibido, talvez tudo isso tivesse sido uma “desculpa” para
que algo mais acontecesse e fosse feito – algo que não foi. Não nego que não
fui a única a falhar, pois de cerca de 20 alunos apenas metade colaborou pro
filme ir pra frente; houve guerra de ego, corpo mole por antipatia com colega, colega
que teve de sair por motivo de doença, enfim, todo tipo de problema humano que
se possa imaginar. Mas o maior erro desse filme, a maior besteira, foi a minha
covardia, a minha omissão, a minha falta de atitude. Perdi várias oportunidades
de expor o significado do filme por puro despreparo, deixei de falar o que devia,
e falei o que não devia; não ajudei o suficiente, não agi como uma diretora devia
agir, menos ainda como uma cristã.
Ainda me lembro do dia em que nossa professora de roteiro
passava o poema no qual devíamos nos inspirar pra fazer o filme. Um poema que
falava do essencial, daquilo que se fosse tirado de nós, morreríamos. Daquilo
que poderia ser traduzido numa palavra; e no momento em que escrevi, que
palavra era esta? Que necessidade tão ardente o seria?
Um sentido. Uma razão pra agir,
pra sonhar, pra viver. É o que todos buscamos como humanos.
Essa foi minha palavra na época. Pérola, a protagonista do filme, buscava ardentemente por um sentido em sua vida. Ela buscou todo o conhecimento que podia para tentar suprir o seu vazio, por isso tinha tantos livros espalhados em seu quarto; ela procurava por respostas, por algo que a saciasse, e tentou fazer do conhecimento o seu sentido; mas não foi suficiente para preencher seu vazio. Frustrada, ao invés do sentido então buscou um consolo: encheu-se de remédios para aliviar sua dor. Mas com o tempo aquilo que era um alívio se tornou uma dependência, um vício, e já não era mais Pérola que consumia os remédios, mas era consumida por eles. Pérola criou então uma fuga, um mundo imaginário onde os problemas não existiam, onde ela era quem queria ser, ou quem pensava ser; mas a realidade veio como um caco de vidro em seu pé e num estrondo, ela caiu na “real”. Ela não via mais o mundo como ele era, mas como o pesadelo que suas escolhas haviam gerado, uma tormenta sem volta, um mundo em preto-e-branco. Já sem esperanças e com tudo destruído, ela não via outra alternativa, senão a de acabar com sua vida.
Essa foi minha palavra na época. Pérola, a protagonista do filme, buscava ardentemente por um sentido em sua vida. Ela buscou todo o conhecimento que podia para tentar suprir o seu vazio, por isso tinha tantos livros espalhados em seu quarto; ela procurava por respostas, por algo que a saciasse, e tentou fazer do conhecimento o seu sentido; mas não foi suficiente para preencher seu vazio. Frustrada, ao invés do sentido então buscou um consolo: encheu-se de remédios para aliviar sua dor. Mas com o tempo aquilo que era um alívio se tornou uma dependência, um vício, e já não era mais Pérola que consumia os remédios, mas era consumida por eles. Pérola criou então uma fuga, um mundo imaginário onde os problemas não existiam, onde ela era quem queria ser, ou quem pensava ser; mas a realidade veio como um caco de vidro em seu pé e num estrondo, ela caiu na “real”. Ela não via mais o mundo como ele era, mas como o pesadelo que suas escolhas haviam gerado, uma tormenta sem volta, um mundo em preto-e-branco. Já sem esperanças e com tudo destruído, ela não via outra alternativa, senão a de acabar com sua vida.
Quando nos pedia para escrever os roteiros, nossa professora
disse que queria algo, de certa forma, baseado em nossas vivências pessoais; ou
seja, que a nossa própria essência estivesse ali. Então, o Entre as Folhas seria auto-biográfico?
Sim e não. Muito mais do
que UMA pessoa específica, a própria Pérola em si é uma metáfora: é alguém que,
como todos, nasceu com um tremendo vazio existencial e, como muitos, tentou
preenchê-lo a todo custo com coisas que além de não bastarem, a tornaram
escrava e dependente. Os livros podiam representar uma profissão, um ideal, um
sonho, um relacionamento; os remédios, como um consolo, poderiam ser bebida,
baladas, cigarro, sexo, drogas; e o jardim era a fuga máxima do real, negar os
problemas, fingir que está tudo bem, colorido e feliz, negar o vazio e a dor. Mas
o baque da realidade é mais forte. Não há céu, não há chão, ela não tem mais
onde se firmar e resolve terminar com tudo. Mas quando já parece ser tarde
demais, alguém estende a mão. Alguém que se preocupa. Que realmente a ama.
Alguém que não se importa com o que ela tenha feito, com quem tenha sido: Ele simplesmente
quer ajudá-la a descobrir quem ela realmente é e é o único que pode levá-la a
conhecer seu verdadeiro sentido. Meu querido, minha querida, este alguém é
Jesus, e esse sentido Deus, é viver com Ele. E viver aqui, neste mundo e nesta vida que é A ÚNICA em que você vai poder
escolher o seu destino. Não é preciso morrer pra encontrar Deus, pra falar com
Deus, ou para ouvir Deus, pois ainda NESTA VIDA Ele quer que você o conheça,
que se relacione com Ele. Uma religião não vai te proporcionar isto,
conhecimento (bíblico ou não) não vai te proporcionar isto. Meu amigo, a
salvação só se consegue de uma maneira, e possui três passos essenciais: crer,
se arrepender, e se entregar a Jesus. Você pode não entender, pode duvidar, mas
a verdade é que o Deus que diziam estar distante se fez homem, habitou entre
humanos e FOI MORTO por amor a cada um de nós. Jesus É DEUS e não apenas
morreu, mas ressuscitou e venceu a morte para nos dar vida, e vida em
abundância. Jesus não é uma religião chata, é um Deus que promove um
relacionamento vivo e amoroso. É um cara que vai te amar independentemente de
quem você é, mas que vai te ajudar a crescer e mudar, mudar pra aproveitar cada
vez mais a vida que Ele deu pra você; Jesus não é aquele que simplesmente fez
milagres na antiguidade, mas aquele que FAZ milagres a todo tempo na vida dos
que se entregam a Ele.
É... Acho que é isso o que eu queria dizer esse tempo todo.
Eu queria dizer o que eu vivo, o que
eu sinto, o que eu fui e o que eu sou. Ainda com defeitos, com problemas, mas
com esperança e um amigo inseparável que reparte as cargas comigo e alivia o
meu cansaço. Glória e Aleluia.
E pra você que não conhece, ou não viu ainda integralmente o
roteiro do Entre as Folhas, ele está “anexado” logo abaixo. Ainda pretendo
alterar algumas coisas, como trocar a praia realmente por um rio e também o
nome dos personagens, de Pérola para simplesmente “Ela” e do Alguém para quem “Ele”
é.
Um grande abraço, e se você aguentou até aqui (rsrsrs),
enjoy!
( Fotos extraídas do álbum de Rayat
Lyrians em: https://picasaweb.google.com/fotorayart/CurtaEntreAsFolhasRoteiroLinMarxDirecaoLinMarxEAlexandreOliveira#
)
“ENTRE AS FOLHAS”
Um roteiro original de Lin Marx
1. PRAIA – EXT – NOITE – CÉU ESTRELADO
FADE IN
O céu e as estrelas surgem lentamente no fundo negro.
FADE OUT
2. LAGOA – EXT – DIA
FADE IN
PÉROLA está deitada, boiando na água e olhando para cima. À sua volta algumas folhas flutuam. Outras folhas caem lentamente sobre ela. O reflexo da água é bem azul e as folhas estão bem verdes.
MONTAGEM PARALELA COM CENA 3.
3. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
CENA 3 SURGE APENAS EM CORTES RÁPIDOS, COMO SE A CENA 2 FALHASSE.
Pérola está deitada no chão. Ela tem aparência doentia. À sua volta estão vários pedaços de papel rasgado. Outros pedaços caem lentamente sobre ela.
FUSÃO DA CENA 3 COM CENA 4
4. JARDIM DE OUTONO – ABAIXO DA SOMBRA DA ÁRVORE – EXT –DIA
Pérola está deitada sobre folhas amareladas de outono, abaixo da sombra de uma árvore. Algumas folhas de outono caem lentamente sobre ela.
FADE OUT
5. JARDIM FLORIDO – EXT – DIA
O jardim possui flores de todas as cores. A grama é bem verde, há uma árvore no meio das flores. Pérola corre pelo jardim, quando subitamente tropeça.
6. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
Pérola cai no chão frio.
5-B. JARDIM FLORIDO – EXT – DIA
Pérola está caída. Ela nota uma pétala de flor fincada em seu pé. Pérola tira a pétala e sai pólen dourado pela ferida que a pétala deixou. Pérola pega um pouco do pólen e passa em seu rosto. Ela assopra a pétala e a pétala se multiplica, depois se transforma em borboletas, que rodeiam Pérola cada vez mais rápido.
7. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
A mão de Pérola rodeia um copo com uma colher. Dentro do copo está continuando a CENA 5-B, que está colorida. A mão de Pérola para de rodear o copo e derrama o líquido sobre a superfície. O SOM do líquido é destacado.
8. JARDIM DE OUTONO – EXT – DIA
Pérola ouve o SOM de bolhas emergindo, vindo de uma lagoa próxima. Ela vai até a lagoa e vê em seu reflexo o teto do quarto escuro, e sua imagem em PB debilitada e doentia. Pérola espalha o reflexo com sua mão.
9. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
A mão de Pérola derruba vários remédios, cadernos, uma garrafa d’água, uma colher e uma luminária ligada de uma escrivaninha que está em frente a uma janela aberta. Na janela é visto o céu estrelado, que está em cores. Pérola fecha subitamente a janela. A luminária continua ligada, pendurada pelo fio da tomada. Ao lado de Pérola há uma cama e, na parede, uma estante cheia de livros. Pérola tira todos os livros da estante. Ela joga uns sobre a cama, outros no chão. Começa a arrancar as folhas dos livros e as rasga. Ela chora desesperada enquanto arranca as folhas.
CORTA PARA FLASHBACK 1
F-1. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
A mão de Pérola rodeia um copo com uma colher. Há pedaços brancos se desmanchando dentro do copo.
FUSÃO DOS PEDAÇOS DO COPO COM AS ESTRELAS DO FLASHBACK 2.
F-2. PRAIA – EXT – NOITE – CÉU ESTRELADO
Aparece o céu estrelado. Logo abaixo está uma praia.
F-3. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
O fim da praia é vista colorida pela janela do quarto. A escrivaninha é vista de cima, com os remédios, os cadernos, a garrafa, o copo vazio, a colher e a luminária ainda sobre ela. Pérola está ajoelhada no chão, com vários livros abertos ao seu redor. Ela abre e folheia os livros apressadamente. Parece chorar. Pérola se levanta e vai até a escrivaninha, enche o copo com a água da garrafa e despeja um remédio sobre a água do copo. Ela rodeia o copo com a colher. Tira a colher e despeja o líquido do copo sobre a superfície da escrivaninha. Arremessa o copo entre os livros do chão e o copo se quebra.
ELIPSE
10. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
Pérola pega algumas folhas rasgadas e as joga no ar enquanto rodopia. As folhas giram ao seu redor. Ela parece um pouco mais calma, quando pisa em um caco de vidro, desliza e cai no chão.
ELIPSE
10-B. QUARTO ESCURO – INT – NOITE (PB)
Pérola está deitada no chão, chorando. Seu rosto está manchado com um pouco de sangue. À sua volta estão vários pedaços de papel rasgado. Outros pedaços caem lentamente sobre ela. Há um caco de vidro ensangüentado em sua mão. Ela para de chorar, estende lentamente os braços e encosta o caco de vidro sobre um dos pulsos. Ela afasta o caco de vidro do pulso, depois o aproxima novamente e faz um leve arranhão. Pérola afasta o caco e se prepara para fincá-lo no pulso. Sua vista começa a desfocar. Quando ela vai fincar o caco, as mãos coloridas de ALGUÉM seguram as mãos de Pérola. Tudo ainda está desfocado. Pérola amolece e deixa o caco de vidro cair de sua mão. Alguém se ajoelha no chão e a pega no colo, tira o sangue de seu rosto e a abraça. Pérola chora e começa a ficar colorida. Água começa a entrar pela porta do quarto. As paredes do quarto vão se desfazendo.
FUSÃO DA CENA 10-B COM A CENA 11
11. PRAIA – EXT – AMANHECER
Pérola e Alguém ainda estão abraçados, com a água da praia molhando os pés e joelhos de Alguém. Pérola está mais tranquila.
ELIPSE
FUSÃO DA CENA 11 COM A CENA 12
12. PRAIA – EXT – MANHÃ
Pérola está sentada na praia, olhando para o mar.
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