sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Persépolis - Crítica

Satrapi sem contornos
Numa vertente do Cinema em que as mulheres costumavam ser caracterizadas como indefesas “donzelas em perigo”, assistir a um filme sobre uma mulher, feito por quem REALMENTE entende do assunto – ou seja, uma mulher – é um presente mais do que bem-vindo, e há muito tempo esperado.


E Marjane Satrapi não decepciona. Tendo como referencial master sua incrível e forte avó, vemos na jovem “profetiza” uma garota que, além de vivenciar todos os dilemas e conflitos pelos quais toda mulher no mundo passa (garotos, transformações no corpo, garotos...), ainda sofre com preconceito e discriminação – tanto pelo forte machismo em seu país de origem (Irã) quanto fora dele, pela xenofobia que se tem a “árabes” no geral – além da ditadura e das guerras civis que imperam o país na época do Xá. Mas além de mulheres fortes como a avó, também conhecemos verdadeiros homens honrados e corteses num ambiente tão impróprio, como o pai e o tio de Marjane.
 
 
Além dos personagens muito bem caracterizados, temos os impecáveis aspectos técnicos e narrativos de uma animação 2D tradicional que, mesmo com traço extremamente simples é muito bem elaborada e aproveitada tanto para fazer gags (as transformações na puberdade de Satrapi) como para efeito dramático (execuções, conversas da garota com Deus e Karl Marx). Outra coisa interessante de se notar é a “animação dentro da animação”, feita através de recortes em papel e usada para acompanhar a narração do pai de Marjane sobre a história do Xá.
 
 
A trilha sonora também acompanha o ritmo e os tons do filme com maestria, tendo seu ponto de destaque numa divertidíssima releitura de Rocky Balboa, com Marjane cantando “Eye Of The Tiger”. Por fim, a “fotografia” do filme se mostra certeira ao colocar todas as experiências passadas da protagonista em PB, fazendo do filme um longo e divertido flashback que ao final ganha cor, mostrando de maneira orgânica e criativa o momento exato em que o passado se torna o presente da história de Satrapi.

E independente do quanto eu goste de Ratatouille, confesso que o grande merecedor do Oscar de Animação daquele ano saiu da premiação com as mãos vazias.


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