sábado, 16 de outubro de 2010

Cinema Digital e Animação: Paulo Munhoz no Centro Europeu


Paulo Munhoz e o famoso papelzinho transparente da Animação 2D tradicional



Como está o Brasil, no quesito Animação? Pergunta à qual me fiz no início deste ano, cuja resposta veio a cavalo através dos eventos dos quais participei desde então, incluindo uma conversa com o roteirista Almir Correia. Nesta sexta-feira (15/10), o cineasta Paulo Munhoz misnistrou uma Master Class aberta ao público na sede do Centro Europeu.

Paulo Munhoz, formado em Engenharia Mecânica, pós-graduado em Computação Gráfica, mestrado em Tecnologia e Interação. Vice-presidente da AVEC/PR (Associação de Vídeo e Cinema do Paraná), cineasta premiado e conhecido pelo longa-metragem de animação BRichos e pelos dois curtas O Poeta, mais o intelingentíssimo PAX. E ele não começou sua aula falando propriamente sobre Cinema de Animação, mas sobre o próprio conceito do que é Animação, aniquilando logo aquela velha definição boba de "desenhinho pra criança".


Pense conosco: quando um técnico elabora uma simulação de crime, que tipo de mídia é a simulação? E os projetos de Engenharia Civil, Aeronáutica... Tudo isso é animação!


Nas palavras do próprio ministrante, a Animação sempre foi visto como o "patinho feio" do Cinema, aquele que os bam-bam-bans cinematográficos sempre desprezaram, muitas vezes dizendo que um filme animado não é Cinema.


Mas e quanto ao filme Avatar? Uma das maiores bilheterias de todos os tempos, sucesso no mundo inteiro. Alguém se arrisca a dizer que aquele filme seria o mesmo se não fosse pelas animações 3D que compõem 100% dos cenários de Pandora? É claro que não e o motivo é óbvio: Avatar é um filme de Animação por excelência.




Cena do curta "PAX", de Paulo Munhoz

Depois de barrado ao pedir emprego numa emissora de rádio, e simplesmente humilhado ao tentar participar de um Núcleo de Cinema em Super 8, Paulo Munhoz teve finalmente a sua primeira "imersão" no mundo do cinema durante uma Semana de Seminários e Palestras sobre a Animação no Canadá, onde conheceu o trabalho de Norman McLaren. "Aquilo foi um vírus injetado na minha cabeça", conta. Pouco depois, resolveu entrar no mundo do cinema e começou como autodidata, lendo todos os pouquíssimos livros sobre cinema que encontrava nas bibliotecas daquela época.


Uma de suas primeiras empreitadas na Sétima Arte foi o que ele chamou de uma "co-produção internacional de pobres", feita com um amigo que possuia uma pequena produtora no Canadá. Ele conta que, no roteiro, era necessária uma cena de incêndio em uma fábrica e, por isso, os dois haviam desistido de gravar o filme - quando, num dia qualquer, ele atende um telefonema de seu amigo que, eufórico, conta que houve um incêndio numa fábrica de plásticos próxima à casa dele e que tudo fora filmado. E assim, por obra do acaso o filme pôde sair do papel.






BRICHOS



Primeiro longa-metragem de animação do Paraná, BRichos veio de uma crítica ao terrível "internacionalismo" brasileiro: Matte Leão é um produto brasileiro representado por um animal africano, Antártica tem dois pinguins desenhados em sua logo, e a Sadia é possui um peru; sendo que a fauna brasileira é a mais diversificada do planeta! Inspirado nessa crítica, Paulo Munhoz cria todo um universo de personagens 100% brasileiros, vivendo problemas e situações comuns a todos nós, inclusive a própria questão das crianças que, desde cedo, aprendem que "o que vem de fora é sempre melhor do que o que é daqui".

Uma crítica inteligente feita de uma maneira criativa, outro dom mal-explorado do brasileiro. O filme BRichos em breve terá uma continuação, que carrega o subtítulo "A Floresta é Nossa" e, segundo Paulo, dessa vez sairá da Vila dos Brichos para alcançar um âmbito mais global - mas isso sem desvalorizar o que nós temos aqui, pois nosso protagonista Tales (que também é o nome do filho de Paulo Munhoz) e seus amigos são e sempre serão brasileiros. O filme tem data de estreia para Setembro de 2011, mas mostrar um posterzinho não faz mal a ninguém...

Além disso, Munhoz também falou sobre a ignorância de psicólogos em subestimar a capacidade cognitiva das crianças, que podem entender e aprender mais do que imaginamos. Ele deu como exemplo o interesse que seu filho, com poucos meses de vida, teve ao ver um documentário sobre vôo de pássaros.

"Uma criança não precisa ver um monte de bolas alegres com cores vibrantes saltitando pra se interessar e aprender com aquilo. É o movimento, e não a cor, que realmente interessa à criança".

Outro assunto foi a respeito do que se considera como "interativo" nos dias de hoje, ou seja, jogos, sites e menus de internet no geral, medindo a interatividade pelo número de cliques que se dá com o mouse. Mas como dizer que não há interação entre um leitor e seu livro? Interatividade verdadeira deveria se medir pela capacidade que o receptor tem de aproveitar para sua realidade o que se passa do lado de dentro da tela - e isso certamente acabaria com elogios a jogos cheios de cliques e sem nenhum conteúdo.

Finalizando, é óbvio que na master class também ouvimos dicas para futuros trabalhos, como ter um bom planejamento - não apenas uma boa idéia - começar um filme pelas cenas menos importantes (pra pegar experiência e ir evoluindo o traço até chegar nas cenas-chave), ter sempre um espelho à mão na hora de animar (pra facilitar o estudo de expressões e movimentos) e um cronômetro, além do fato já conhecido de que fazer um filme de Animação muitas vezes é mais caro e SEMPRE é mais demorado do que fazer Cinema filmado.

A Animação é a avó do Cinema, que infelizmente foi jogada num azilo e que agora está voltando à ativa através de renovações como efeitos especiais e o 3D. Mas a boa e velha técnica 2D é algo que não morre, pois independente de quantos digam que o Cinema caminha em direção da realidade, e que o 3D agora nos possibilita fazer tudo, sempre haverá pessoas de braços abertos pra sair da rotina e viajar por essa realidade contornada.

Vide o sucesso das HQs.

Nenhum comentário: