Era noite chuvosa e o colégio já estava vazio. Um vento gélido batia nas árvores, criando a impressão de que seus galhos agarravam algo do lado de fora; o som da chuva e dos trovões contribuía para uma atmosfera ainda mais sombria. Nenhum pássaro voava no céu; nenhum cão latia. Não havia pessoa alguma andando nas calçadas perto do lugar; nem mesmo o som dos carros era ouvido.
Ao sinal das três horas da madrugada, um rapaz muito magro atravessou às pressas o pátio central, ofegante e assustado – parecia fugir de alguém. Parou para recuperar o fôlego e andou lentamente até uma rampa próxima à ala par; enquanto a descia com extrema cautela, tirava de sua mochila um livro azul-marinho e um pequeno medalhão dourado. Dobrou a esquina depois da rampa tentando encaixar o medalhão à capa do livro, mas tropeçou num lance de degraus e caiu, deixando o pequeno objeto deslizar por baixo da porta de ferro e vidro de um depósito.
Nervoso, o rapaz jogou o livro que carregava num espaço entre uma janela e a parede; então, tentou alcançar o medalhão estendendo seu braço por um buraco na porta do depósito – foi em vão. Levantou-se e puxou o trinco da porta com toda a força, mas mesmo assim não conseguiu abrir. Começou a se desesperar; o suor encharcava mais seu rosto do que a chuva.
De súbito, um assobio estridente foi ouvido ao longe e petrificou aquele magro estudante. Ele se encolheu num canto da parede, tremendo e rangendo os dentes, de olhos arregalados. Após o momento de pânico, levantou rapidamente e saiu em disparada até os fundos do planetário.
No mesmo instante, ouviu-se daquele lugar um enorme trovão seguido de um grito masculino. A chuva parou e as trovoadas cessaram. O silêncio reinou absoluto nos instantes seguintes da noite; o último som que se ouviu foi o de passos lentos e firmes descendo as escadas da ala ímpar do colégio.